Grande Festival da História – North Sea Jazz Festival
Julho de 2015, rumo aos mares do norte… Mais especificamente, Amsterdam depois Rotterdam (Holanda). Objetivo? Assistir os maiores nomes do Jazz mundial em um dos maiores e mais prestigiados festivais do mundo: o North Sea Jazz Festival.
Nunca ouviu falar?
Então, vamos lá! Desde 1976, para celebrar o verão europeu, acontece o que para mim pareceu a versão “Jazzy” do Rock in rio, o North Sea Jazz Festival. Em 40 anos de festival, os números são realmente impressionantes: 120 dias de festival, 6000 shows, para mais de dois milhões de visitantes. Tá bom pra você?!
Alguns nomes que já passaram pelos palcos dos mares do norte: Oscar Peterson, Stan Getz, Michael Petrucciani, Fredie Hubbard, Michael Brecker, Art Blakey, entre muitos, muitos e muitos outros. Voltando aos iluminados dias 10, 11 e 12 de Julho de 2015, vamos falar do que aconteceu enquanto estive por lá.
A primeira coisa que impressiona, é a quantidade de shows que acontecem ao mesmo tempo em salas e auditórios, que variam de tamanho entre o auditório do Ibirapuera até o Maracanã. Não, nenhum exagero, bastou passar uma cortina e lá estava: um Maracanã indoor com milhares de pessoas enlouquecidas assistindo Lionel Richie!!!
“Opa, mas você disse os maiores nomes do jazz”, você deve estar questionando. Calma lá, esse exemplo foi só pra demonstrar o tamanho da maior sala de show que pisei na vida. E, claro, antes de mais nada um festival de música da melhor qualidade, que vai de Lionel Richie a Branford Marsalis, passando por Lady Gaga com Tony Bennett.
Difícil dizer todos os nomes que se apresentaram no North Sea, mesmo porque, fora o enorme centro de convenções onde acontece de fato o festival, na cidade de Rotterdam ficam espalhados uma infinidade de palcos com shows gratuitos de artistas do mundo inteiro, para lavar a alma com música boa!!! Até esse baterista tupiniquim que vos escreve teve seu momento de glória dando uma canja que envolveu o baixista Marcus Miller na mais badalada jam session da cidade, o after party oficial do festival no famoso “Bird”.
Mas essa é uma história que merece outro artigo…
Voltando a condição de espectador abestalhado, vou listar aqui para você que está lendo e que, talvez, esteja dando os primeiros passos na música instrumental, alguns dos shows que assisti, com um breve comentário sobre cada.
Kurt Elling
Primeiro palco, depois de uma baita correria. Lá estava eu me acomodando para assistir esse grande cantor americano que, confesso, não conhecia nem de nome. A partir daí, percebi que seria realmente incrível cada momento no North Sea. Arranjos lindos executados por uma banda de primeira. Piano, baixo, bateria, guitarra. Tudo acústico e com uma sonoridade daquelas que parece que você está ouvindo o disco em casa – e de fones de ouvido.
E lá vai o Kurt, um tiozão daqueles que você não hesitaria em apresentar àquela amiga solteirona da sua mãe, improvisando a valer e cantando com uma força de interpretação à la Sinatra ou Tony Bennett. E para finalizar, uma canja fantástica de Richard Galliano em uma parceria com Kurt tocando seu acordeon de forma divina, como só o único aluno de Astor Piazzolla seria capaz . Tava difícil acreditar que era só o começo.
Avishai Cohen
Antes de mais nada, devo esclarecer que se trata aqui do trompetista Avishai Cohen. Existe um homônimo tão jazzman quanto esse, mas que toca contrabaixo (e que também vale a pena conferir). Em trio, esse Vicking barba ruiva quebrou tudo em uma sala de porte médio com todos os assentos ocupados e cada espaço em pé ou sentado ao chão que fosse possível também. Bateria, trompete e contrabaixo. Só quem já tentou tocar em trio sabe o tamanho do desafio que é soar bem e ser interessante nessa formação.
Para esse talentoso e jovem músico, misturar a melancolia tradicional da música folclórica de Israel com a mais pura linguagem do jazz adquirida nos pequenos clubs de Nova York, parece brincadeira de criança. Vale a pena conferir não só esse trabalho em trio como todos os outros projetos desse que é mais um fruto da safra de grandes músicos formados pela Berklee College of Music em Boston.
New Rotterdam Jazz Orchestra
Ainda atordoado pelos dois shows anteriores e explorando o imenso espaço onde acontecia o festival, chego em uma área ao ar livre com alguns palcos onde me deparei com esse “combo” de doze músicos quebrando tudo. Um som moderno dos donos da casa, da bola e de tudo mais.
Gravei um pouco de cada show que assisti com alguns comentários e, ouvindo agora para poder escrever a respeito, chamo a atenção para o groove potente do guitarrista da gig. Depois fui pesquisar e se trata de um guitarrista holandês chamado Anton Goudsmit, que estava ali fazendo uma participação mais que especial. Resumindo, quando achei que iria tomar um ar, mais uma saraivada de som de primeira.
Branford Marsalis Quartet
Minha saída pra tomar um ar custou caro. Demorei para encontrar a sala onde seria um dos shows que estava esperando que nem criança em véspera de natal. Fiquei de fora por umas duas músicas junto com um aglomerado de pessoas… Achei até que não ia rolar mas, de repente, tudo se organizou e entramos de forma civilizada e rápida.
E lá estava eu, Branford Marsalis (sax), Joey Calderazzo (piano), Eric Revis (double bass) e o ”ABSURDO” Justin Faulkner (bateria). E, claro, um auditório lotado, vibrando em cada improviso tipo um FLA X FLU no Maracanã. Mais meia dúzia de temas e fim de show. Aquela saidinha dos músicos pra esperar pedirem o “Bis”. E, por trás da cortina, vejo um senhor colocar a cara para ver o que estava rolando, demorei um pouco pra reconhecer – era ninguém menos que Jack Dejohnette, uma lenda viva da bateria! Ele voltou com o quarteto em uma canja que foi um verdadeiro presente para quem estava lá. O Jack estava lá com um trabalho entitulado “Made in Chicago” – que não consegui assistir. Logo, imaginem a felicidade desse baterista que vos escreve.
Hamilton do Holanda
Poderia resumir em orgulho de ser brasileiro!!!! Quando ouvimos que os gringos piram com a música e os músicos brazucas, acho que não temos ideia do que isso significa. É realmente de encher os olhos e sossegar o coração… um afago. Na gig, Hamilton de Holanda (bandolim), André Vasconcelos (double bass) e Thiago Serrinha com um set meio precussão meio bateria (percuteria), tocando com um swing impressionante. E como somos um país das mais belas canções, lá estava ele atacando a cereja do bolo. Diogo Nogueira (voz) deitando e rolando na cama que esses músicos incríveis prepararam para ele.
Melody Gardot
Hora de acompanhar minha namorada no show especial da noite, eleito como atração principal daquela noite pelo festival. Realmente, me surpreendeu a american jazz singer e sua banda. Talvez pra você que gosta de jazz soe ”pop” demais. Mas o cuidado com a sonoridade os arranjos e o vozeirão dela endossam sua participação no festival em um lugar de destaque.
Omer Avital
Mais uma surpresa: esse jovem contrabaixista de Israel, chamado de Charles Mingus de Israel pelos críticos da Downbeat e do New York Times, realmente impressiona com a atmosfera que sua gig cria. Ele que tem um quinteto também com o trompetista Avishai Cohen, desta vez estava acompanhado de Joel Frahm (sax tenor), Yonatan Avishai (piano) e Daniel Freedman (bateria). Baita som, vale a pena conferir!!
Gary Clark Jr.
Esse guitarrista americano vencedor de Grammy, e que recebeu elogios até do Obama, sobe ao palco do North Sea Jazz Festival para uma bonita homenagem ao eterno B.B King. Quanta responsa, hein?! Mas estava tudo Tranquilo e Favorável… rs.
Foi um belo show desse músico versátil que já dividiu o palco com nomes como Eric Clapton, Rolling Stones e Dave Grohl.
Spok Frevo
Orgulho de ser brasileiro, parte II. Se os gringos estavam pirando com o Hamilton de Holanda, encontrei-os agora à beira de uma convulsão com o frevo jazz da orquestra do Spok. IMPRESSIONANTE!!!! Cada saxofonista que levantava pra improvisar a la Charlie Parker deixava não só os gringos, mas eu também em choque.
Foi um momento único de perfeita harmonia, com o Spok cantando e contando piadas em português. Deixando o tradutor em maus lençóis, tendo que improvisar mais que saxofonista em trio. Viva à música Brasileira!!! Viva Pernambuco!!!
Roy Hargrove Quintet
Talvez um dos mais importantes nomes do Trompete e do Jazz da atualidade. Esse show foi pra fechar com chave de ouro minhas impressões sobre o North Sea Jazz Festival. Talvez o mais versátil artista que se apresentou nessa edição do North Sea, ele transitou sem dificuldades do tradicional ao moderno e ao comercial. Já ganhou Grammy como Cuban Latin Jazz no álbum Crisol.
Ataca de big band e foi pioneiro em trabalhar com artistas de Hip-Hop. Se apresentou pela primeira vez no North Sea em 1986. E fez um show digno de encerramento daquela noite, com direito a atacar de canário cantando que nem gente grande. Esse vale a pena conferir cada trabalho em cada estilo dos que citei.
Grande Presente…
Bom, espero ter conseguido passar para você pelo menos uma fração do que foi ter tido o privilégio de estar presente nesses shows. Com certeza, tudo que vi e vivi nesses dias serviram para enriquecer não só o meu som, mas a minha vida.
Deixo pra trás shows que não consegui ver como: Brian Blade & The Fellowship Band, Chick Corea & Herbie Hancock , DAngelo & The Vanguard, John Legend, Lee Konitz Quartet, Marcus Miller Afrodeezia, Tony Bennett & Lady Gaga, The Bad Plus Joshua Redman… entre outros. De qualquer forma, fica aqui o registro.
Pesquise, ouça e enriqueça seu repertório!!!! Um grande abraço e Viva aos Sons!!!!!!
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Por Rodolfo Laumes